domingo, 21 de abril de 2013

Anacrônico

Nem vi quando tudo aconteceu. Apenas abaixei as pálpebras e já estava em outra esfera alheia do real, algo completamente impalpável. De alguma forma eu já sabia que era efêmero. Em questão de segundos, ele tocou a campainha da minha casa, abriu um sorriso e me rendeu. Rendeu pelo sorriso e rendeu por estar exatamente aonde eu elucubrava sempre ao deitar: na minha frente. Perdidos e achados saíamos pelas ruas que estavam iluminadas de tal forma que até valeria a questão: estamos mesmo em Salvador? Estava tudo especialmente lindo. Rodopiamos, sorrimos, cantamos, como em uma película verdadeiramente piegas de comédia romântica. Mas estava acontecendo, não era um filme (até que poderia ser). Entramos em uma festa, música alta, bebidas e pista cheia. Estranhamente me pareceu chato, estranho, pesado. Tudo que tínhamos era leve, puro, livre e belo. Nos conhecemos de novo: "Tu, lipa... Eu, calipto" (retirado do livro Poesia Numa Hora Dessas?!, de Veríssimo/poema completo ). Éramos como completos desconhecidos que se conheciam novamente dentro de universos diferentes. Fugindo de uma ordem cronológica, levantava delicadamente minha blusa de seda vermelha enquanto eu, estática, de olhos fechados tentava timidamente me beliscar para ter certeza que tudo estava acontecendo. Os olhares se encontraram, desencontraram e, enfim, reencontraram entre ofegantes palavras que pronunciávamos. A delicadeza desconcertante definiria o estado em que nossos corpos já unidos se encontravam. TEMPESTADE. Aonde está? Por que não se despediu? O verei novamente? A tal 'outra esfera' ficava exatamente alí, dentro de mim, no meu inconsciente. Nos meus sonhos.